INTERTEXTUALIDADE E HERMENÊUTICA

Rebeca Maluf
30 min readJan 10, 2024

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OBS.: Este texto é a tradução do meu trabalho de conclusão de curso para a minha graduação em Estudos Bíblicos. Eu traduzi as citações que usei dos livros e artigos em inglês. A expressão "ibid" nas notas de rodapé é o que usamos na formatação Turabian para se referir a fonte citada acima para não precisar repetir o título do livro ou artigo. Principalmente durante a introdução, as notas de rodapé contém informações que ajudam na compreensão dos assuntos sendo apresentados.

Introdução

Um livro sagrado é um aspecto significante de muitas religiões ao redor do mundo. Levando em consideração o cristianismo e o efeito da Reforma Protestante, um interesse em aperfeiçoar hermenêutica bíblica[1] está presente tanto em igrejas quanto em ambientes acadêmicos. Da mesma forma, dois mil anos de história mudou como leitores das Escrituras veem e interpretam o texto. Por exemplo, leitura alegórica era uma prática proeminente na Era Patrística. Hermenêutica moderna, por outro lado, tende a defender que uma passagem bíblica tem apenas um significado;[2]exemplos presentes na história da Igreja demonstram que tal crença não esteve sempre presente entre aqueles que interpretaram a Bíblia.

Um dos métodos proeminentes de interpretação bíblica presente na academia no Ocidente é o método Histórico-Gramatical. Bruce K. Waltke definiu este método hermenêutico como uma tentativa de “recuperar o significado e intenção[3] do autor por cuidadosamente estabelecer o contexto — o significado de suas palavras, a gramática da sua linguagem e as circunstâncias históricas e culturais, etc. — no qual o autor escreveu.”[4] Este método é uma parte considerável dentro dos Estudos Bíblicos e pode ser útil em uma tentativa de reconstruir o que o texto provavelmente significou para a audiência original. Entretanto, alguns problemas existem quando interpretadores da Bíblia hoje seguem apenas tal metodologia. Bruce K. Waltke pontuou três problemas com o método Histórico-Gramatical: “(1) pré-julgamento; (2) criticismo bíblico; e (3) contexto.”[5] Considerando o primeiro problema que o Waltke mencionou, pré-julgamento pode ser resumido como a ideia que “é impossível para ela [a pessoa interpretando] ser neutro e sem pré-suposições.”[6] O segundo problema, criticismo bíblico, se trata de reconstruir o texto bíblico original usando os diferentes manuscritos que pesquisadores descobriram através dos anos.[7] Um método hermenêutico completamente dependente do texto original para considerar uma interpretação confiável é uma rota para a derrota já que os manuscritos originais nunca foram achados. O terceiro problema que Waltke explicou, a respeito de contexto, é dividido entre as diferentes áreas que o estudo do contexto se aplica dentro de hermenêutica: “linguístico, literário, cultural, situacional, Escrituras e teologia.”[8] Achar a melhor metodologia para o estudo da Bíblia não é uma tarefa fácil.

A interpretação da Bíblia atravessa duas disciplinas diferentes: Estudos Bíblicos e teologia. Estudos bíblicos “é a coleção de diversos, e em alguns casos independentes, disciplinas agrupando ao redor da coleção de textos conhecidos como a Bíblia cujo limites (aqueles da Bíblia) são ainda uma questão de discordância entre os vários ramos das igrejas cristãs.”[9] Teologia, mesmo que não separada dos Estudos Bíblicos dentro do cristianismo, “é o estudo, analise e afirmações da doutrina cristã de forma cuidadosa e sistemática.”[10] Portanto, enquanto os Estudos Bíblicos focam na analise e entendimento do texto bíblico dentro de seu contexto histórico, teologia busca usar os ensinamentos e construir uma aplicação.

Uma das áreas mais fascinantes dentro dos Estudos Bíblicos é a intertextualidade.[11] Stefan Alkier afirmou, “O conceito de intertextualidade, portanto, envolve a tarefa de investigar a relação que o texto pode ter com outros textos.”[12] Em Estudos Bíblicos, quando um ator da Bíblia faz referência a um outro livro, o estudo de tal passagem tem que passar por uma analise de intertextualidade.[13] Considerando a necessidade de achar uma forma mais eficiente e menos pragmática de fazer hermenêutica, o texto bíblico demonstra como desenvolver um entendimento dos mandamentos e ensinamentos de Deus em relação a diferentes realidades humanas. Portanto, na desafiadora tarefa de fazer teologia baseada no significado de uma passagem bíblica, o uso de passagens do Antigo Testamento pelos autores do Novo Testamento, o uso deles de Tipologia e o desenvolvimento de temas teológicos ensinam um processo mais confiável em como construir a aplicação das Escrituras.

Intertextualidade

Quando considerando a disciplina da intertextualidade, o primeiro aspecto que guia a discussão pode ser como que os autores do Novo Testamento usam o texto do Antigo Testamento. Em outras palavras, “quando autores do NT apelam para os textos do AT para dar suporte ou validar os argumentos deles, a relação entre o significado que eles aplicaram ao texto e o significado que os autores do AT tinham em mente é a pergunta central.”[14] Portanto, um aspecto proeminente para considerar ao estudar intertextualidade entre o Novo e o Antigo Testamento é se os autores chegam a considerar o contexto histórico ao usar uma passagem das Escrituras Hebraicas para fazer um argumento. Se eles não estão preocupados em manter o significado original dado pelos autores do Antigo Testamento, a questão, então, se torna se o método Histórico-Gramatical carrega as preocupações corretas em relação a aplicação da Bíblia.

As três perspectivas em relação a questão de se os autores do Novo Testamento estavam preocupados ou não com a intenção de significado dos autores do Antigo Testamento são: “significado único, referentes unificados,” “significado único, contextos e referentes múltiplos” e “significado ampliado, objetivo único.”[15] O primeiro conceito nega “qualquer distinção entre elas — a intenção dos autores do AT através de suas palavras e a intenção dos autores do NT.”[16] A segunda perspectiva está de acordo “com a primeira posição ao afirmar uma natureza única de significados vinda dos autores do AT e do NT quando os textos do AT são citados no NT,” mas “as palavras que os autores do AT frequentemente tomam uma nova dimensão de significados e são aplicadas apropriadamente em novas situações de acordo com o propósito de Deus se desdobrando no contexto geral do canon.”[17] A última posição sugere “que os escritores do NT frequentemente percebem novos significados em textos do AT que não necessariamente são próximos dos significados intencionados pelos autores originais [do Antigo Testamento].”[18] Neste artigo, a terceira perspectiva é considerada como a que aponta para ensinamentos corretos em relação a intertextualidade.

Os autores do Novo Testamento usam as passagens do Antigo Testamento de diversas maneiras. Em relação às vezes que os autores do Novo Testamento citam trechos de um texto do Antigo Testamento, as diversas passagens não seguem um critério específico em como aplicar as Escrituras para o contexto desejado. A riqueza que vem ao observar como a intertextualidade funciona no Novo Testamento deve liberar os cristãos hoje para entender que existem muitas possibilidades para aprender e se beneficiar das Escrituras.

A maneira mais clássica e reconhecida que os autores do Novo Testamento citam passagens do Antigo Testamento é “para indicar um cumprimento de alguma profecia do Antigo Testamento.”[19] Os quatro Evangelhos tendem a carregar o começo do ministério de Jesus com uma estrutura de texto apontando para o que aconteceu e, então, citando uma passagem do Antigo Testamento para indicar o porquê aquele evento aconteceu. Beale afirmou, “Essa categoria é a mais direta e, normalmente, a mais fácil de entender: uma passagem do AT contém uma previsão específica, e um evento dentro do NT é visto como o cumprimento de tal previsão.”[20] Alguns exemplos desse primeiro tipo de uso são Mateus 2:5–6, Mateus, 3:3 e Lucas 4:17–21.[21] A ideia do cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento dentro da narrativa dos Evangelhos faz sentido com a expectativa da primeira vinda do Messias. Portanto, tal padrão de citações aponta para uma aplicação contextual de profecias do Antigo Testamento.

A segunda maneira que os autores do Novo Testamento citam as Escrituras Hebraicas é “para indicar um cumprimento indireto de uma profecia tipológica do Antigo Testamento.”[22] Enquanto a conclusão que a citação de Mateus de Miquéias 5:2 no segundo capítulo é o cumprimento de uma profecia que se trata do Messias é correta, algumas passagens dos Evangelhos parecem estar fazendo o mesmo tipo de uso do Antigo Testamento, mas elas não encaixam na primeira categoria. Um exemplo é Mateus 1:22–23.[23] Mateus mencionou a forma como a encarnação aconteceu (uma mulher virgem engravidou através da ação do Espírito Santo e deu a luz) e citou Isaías 7:14.[24] A tradução da Bíblia em inglês The New Revised Standard Version Updated Edition traduziu o verso de Isaías de forma correta ao dizer “uma mulher jovem” ao invés de “uma mulher virgem.” Os tradutores da Septuaginta[25] cometerem um erro ao traduzir a palavra hebraica ‘almah para a palavra “virgem,”[26] e a maioria das vezes que os autores do Novo Testamento citam a Escritura Hebraica, eles usam a tradução para o grego.

O que Mateus fez nos versos 22 e 23 do capítulo 1 fica claro quando se entende a diferença de cumprimento direto de uma profecia e de cumprimento indireto. Beale escreveu, “A principal diferença… é que o direto cumpre o que foi explicitamente previsto pelas palavras do profeta, enquanto o indireto cumpre o que foi implicitamente prenunciado por evento históricos.”[27] Outro exemplo de cumprimento tipológico indireto é Mateus 2:14–15.[28] Da mesma forma, considerando que os autores do Novo Testamento não usaram nenhuma estrutura textual para diferenciar as duas categorias anteriormente citadas, a conclusão de qual tipo de cumprimento um texto do Novo Testamento está se tratando depende da análise do contexto da passagem no Antigo Testamento. A diferença do cumprimento direto e indireto é notável em Isaías 7:14 e Mateus 1:22–23 porque, quando estudado dentro do próprio contexto literário e histórico, o fato de que o versículo de Isaías aponta para a situação que Israel estava vivendo no tempo do profeta é detectável.

A questão, portanto, se trata de entender o que os autores do Novo Testamento estão tentando dizer quando citam uma profecia que não se referia diretamente a um evento da vida de Cristo. Em Mateus 1:22–23, alguns paralelos devem ser feito para notar a mensagem vinda de tipologia que Mateus apontou. Em Isaías, o autor se referiu a uma mulher jovem, e Mateus se referiu a Maria, que ficou grávida de Jesus através da ação do Espírito Santo enquanto uma mulher virgem. Isaías está falando sobre um sinal que o rei receberia: uma criança que nasceria da mulher jovem que se chamaria Emanuel, que significa “Deus conosco.”

Mesmo que o nome de Jesus não tenha o mesmo significado de Emanuel, Maria deu a luz ao próprio Deus, conectando com o significado de Emanuel. Em relação a Mateus 1:23, Craig L. Blomberg escreveu, “Ele [o anjo de Deus] instruiu eles a nominarem a criança de Jesus (“Yahweh é a salvação”), explicando que Ele seria o Salvador para o povo dele, não da opressão física da ocupação das forças Romanas, mas das forças de escravidão do pecado deles.”[29] Mateus estava se referindo à encarnação quando mencionou a passagem de Isaías. Portanto, ele estava tentando fazer a afirmação de que o que aconteceu no primeiro século é muito maior do que o sinal durante a época de Isaías. Não uma mulher jovem, mas uma mulher virgem estava dando à luz ao próprio Deus que, através da encarnação, andaria no meio do seu povo por vários anos. A mensagem não é sobre uma profecia messiânica se cumprindo, mas sobre como o Nascimento de Cristo foi um sinal maior de Deus estando com seu povo e, daquele ponto em Diante, com toda a humanidade. Da mesma forma, o aspecto que o Blomberg apontou sobre o tipo de salvação que Jesus nasceu para trazer demonstra novamente que a encarnação foi um sinal maior do que o que aconteceu no Antigo Testamento. Tal uso das Escrituras apresenta uma interpretação teológica ao invés do que uma interpretação puramente histórica.

Uma terceira forma que os autores do Novo Testamento usam o Antigo Testamento é “para indicar afirmações que uma profecia que ainda não se cumpriu do Antigo Testamento com certeza se cumprirá no futuro.”[30] A categoria a seguir da forma que o Novo Testamento usa o Antigo Testamento é “para indicar um uso analógico ou ilustrativo do Antigo Testamento.”[31] De acordo com Beale, tal uso da Bíblia Hebraica “é para enfatizar um principio gnômico, amplo ou universal.”[32] Dois exemplos são o suficiente para ilustrar esse tipo de uso do Antigo Testamento: Apocalipse 2:20[33] e 1 Coríntios 9:9–10.[34] Na passagem de Apocalipse, “Jesus confronta o problema de pecado na igreja de Tiatira” ao mencionar a figura de Jezabel.[35] A lógica de tal analogia vem do fato que “Jezabel incitou o Rei Acabe e Israel a comprometer e ‘fornicar’ ao adorar Baal,” e “de forma similar, os falsos mestres na igreja estavam argumentando que um certo grau de participação em aspectos idólatras da cultura de Tiatira era permitido.”[36] Em 1 Coríntios 9, Paulo queria argumentar que “servos do Evangelho que ‘semeiam coisas espirituais’ no meio de pessoas devem ser beneficiados materialmente daquelas mesmas pessoas.”[37] Portanto, considerando que, em Deuteronômio, “a intenção principal… é cuidado pelos animais,” a afirmação que vem de tal analogia, “indo do menor para o maior e comparando os dois, diz que, se os animais se beneficiam do seu trabalho, quanto mais os humanos devem.”[38] Entretanto, mais do que ilustrar tal uso da Bíblia Hebraica, uma reflexão sobre analogia resultante da interpretação e aplicação é necessária em tal contexto hermenêutico.

O uso de analogia pelos autores do Novo Testamento para aplicar uma passagem do Antigo Testamento é vital para aprender sobre hermenêutica através da intertextualidade quando considerando o método Histórico-Gramatical. Peter Enns afirmou, “Observar como os autores do Novo Testamento lidam com o Antigo Testamento é concluir que a noção que eles tem do que constitui um manuseio adequado do Antigo Testamento nem sempre se encaixa com os nossos instintos.”[39] Considerando a possibilidade da primeira posição em relação a forma que os autores do Novo Testamento talvez usaram o Antigo Testamento, alguém pode afirmar que “embora não seja óbvio para nós, deve haver algum gatilho legítimo no texto do Antigo Testamento já que nenhum autor inspirado lidaria com o Antigo Testamento de forma tão irresponsável.”[40] Chegar a essa conclusão, independente do quão obvio é em muitas passagens que a intenção autoral dos autores do Antigo Testamento não estava sendo respeitada apenas para preservar um método moderna de hermenêutica, é perder a oportunidade de aprender com a Escritura como lê-la e entende-la.

Ao usar o Antigo Testamento no próprio contexto, os autores do Novo Testamento estavam fazendo um exercício teológico. Enns afirmou, “Os autores do Novo Testamento estavam explicando o que o Antigo Testamento significa a luz da vinda de Cristo.”[41] Enns explicou que assim como o contexto histórico e gramatical são importantes ao tentar entender o significado de um texto bíblico, o contexto hermenêutico é também necessário para entender melhor o que os autores do Novo Testamento estavam fazendo ao citar a Bíblia Hebraica.[42] Ele escreveu, “O Antigo Testamento como um todo é sobre Ele [Jesus]… Em outras palavras, para ver como Cristo cumpre o Antigo Testamento — não é simplesmente uma questão de ler o Antigo Testamento objetivamente mas lê-lo ‘Cristianalmente,’ que é o que nós vemos no tempo do Novo Testamento constantemente.”[43] O aspecto crucial para entender é que o conceito do Antigo Testamento apontar para Jesus não deve fazer com que cristãos tendem distorcer a mensagem inicialmente desejada da Bíblia Hebraica ou tentar colocar Jesus dentro de cada página. Em vez disso, cristãos devem entender em qual direção o Antigo Testamento aponta em relação a nova aliança.

Portanto, o contexto hermenêutico precisa ser considerado quando o assunto é intertextualidade. Enns afirmou que “os interpretadores bíblicos [do período do Segundo templo][44]… não estavam motivados a reproduzir a intenção do autor original. Eles estavam muito mais preocupados em cavar por debaixo da superfície para revelar coisas… que o leitor não treinado e impaciente não notaria.”[45] Enns explicou que no período do Segundo templo existiam padrões para como interpretar outros textos e mesmo que os autores do Novo Testamento não estavam fazendo exatamente como seus contemporâneos, interpretadores da Bíblia hoje devem esperar que “eles se comportem de uma maneira que faria reconhecível para os seus contemporâneos ao invés de esperar que se conformem com expectativas desconhecidas do século vinte e um.”[46] Notar a diferença na metodologia da hermenêutica que os autores do Novo Testamento usam não é difícil.[47]

Tipologia

Outro conceito considerável relacionado a intertextualidade é a tipologia. James M. Hamilton Jr. afirmou, “Tipologia é a correspondência histórica e a escalada, intencionada por Deus, em significância entre pessoas, eventos e instituições em toda a história redentora da Bíblia.”[48] Hamilton pontuou dois aspectos cruciais da tipologia: correspondência histórica e escalada em significado.[49] “Termos chaves,” “citações,” “repetições de sequencia de eventos” e “similaridade na importação histórica da salvação ou em aliança” são o que impulsiona a correspondência histórica.[50] Enquanto a escalada em significado consiste em “quando termos chave, citações de material anterior e semelhanças na importação histórica e aliança da salvação chamam nossa atenção para parcelas repetidas nos padrões de eventos, nosso senso de importância desses padrões aumenta.”[51] Para Hamilton, tais características chave da tipologia são o que prova “que os autores do Antigo Testamento pretendiam criar os pontos tipológicos da correspondência histórica e da escalada para a qual os autores do Novo Testamento afirmam cumprir.”[52] Richard B. Hays, por outro lado, argumentou que “a leitura figural da Bíblia não precisa presumir que os autores do Antigo Testamento — ou os personagens que eles mencionaram — tinham consciência de estarem prevendo ou antecipando Cristo.”[53] Tal desacordo está relacionado na questão da intenção do autor.[54] Porém, independente se os autores do Antigo Testamento sabiam como uma pessoa ou evento estaria apontando para Cristo ou alguma verdade teológica no primeiro século, os autores do Novo Testamento entenderam as conexões que eles estavam fazendo, que é o que importa para aprender hermenêutica com eles.

Assim como na segunda sessão deste artigo, alguns exemplos vão ilustrar a definição de tipologia e construir mais a base para argumentar como os autores do Novo Testamento ensinam como se faz afirmações teológicas. Hamilton separou o livro dele em três partes para dar exemplos de interpretações tipológicas do Novo Testamento em relação a aspectos do Antigo Testamento: pessoas, eventos e instituições. Um exemplo de cada parte é o suficiente para esta sessão do artigo.

Para o primeiro tipo de tipologia (pessoas), um exemplo que o Hamilton deu é “o sofredor justo.”[55] Hamilton começou explicando que tipologia do “sofredor justo” ao mencionar como João fez referência ao Salmos 41 em relação a morte de Jesus.[56] Hamilton escreveu que, mesmo que Salmos não contém nenhuma estrutura textual de profecia que prevê um evento no futuro, “um programa escatológico mais amplo em ação no Saltério canônico lido como um livro se junta ao padrão tipológico do sofredor justo visto na experiência de Davi, e para o programa e o padrão que João apresenta Jesus reivindicando cumprimento quando Judas o trai.”[57] Tal conceito demonstra um aspecto do canon bíblico que o uso de citações contém: enquanto história se desenvolve nas Escrituras, teologia bíblica é também desenvolvida pelos autores bíblicos.

O capítulo para a tipologia do “sofredor justo” é dividido em três partes em relação ao Antigo Testamento. Hamilton escreveu um resumo para José, Moises e, então, Davi já que todos os três enfrentaram o padrão de serem rejeitados e, depois, exaltados.[58] A tese do Hamilton em relação a tipologia do “sofredor justo” no Antigo Testamento na pessoa de Jesus é baseado em Isaías 52:13–53:12.[59] Ele explicou que a tese “tem dois lados: primeiro, dentro do livro de Isaías, o que o servo sofre resolve um largo problema dentro do livro, já que o servo suporta a ira da aliança e Yahweh contra seu povo pecador, fazendo com que Yahweh conforte seu povo e conquista para eles um novo êxodo e retorno do exilio.”[60] Hamilton continuou, “Segundo, tudo que Isaías fala sobre o servo sofredor é informado por Escrituras que vieram anteriormente, então Isaías profetiza uma figura futura que irá sofrer como aqueles que vieram anteriormente na história de Israel.”[61]Mesmo que todos os Evangelhos demonstram diferentes aspectos sobre quem Jesus é, cada um dos quatro Evangelhos retrata principalmente um dos aspectos de Jesus enquanto o Cristo; o Evangelho de Marcos é o que pinta Jesus como o Filho de Deus sofredor.[62] Portanto, a tipologia do “sofredor justo” ao longo do Antigo Testamento tem seu cumprimento[63] no sofrimento de Jesus como o Cordeiro de Deus que trouxe vida.

Em relação a eventos, a tipologia a se considerar aqui é a criação. Independente do fato de que vários cristãos interpretam erroneamente o ponto que o texto de Genesis está tentando defender ao tentar fazer dele uma explicação científica de como o mundo foi criado, enquanto um texto do antigo Oriente Médio, o autor de Genesis 1 tinha outras afirmações teológicas em mente. John H. Walton explicou que a “conexão próxima entre origens cósmicas e construção de templo reforça a ideia presente no antigo Oriente Médio que os templos eram considerados primordiais e que as origens cósmicas constantemente eram definidas em termos de elementos de templo.”[64] Um maior desenvolvimento da tipologia presente na criação tem conexões com o que o Walton explicou ao afirmar que “no texto bíblico a descrição do tabernáculo e templo contem muitas conexões transparentes com o cosmos.”[65] Hamilton explicou o desenvolvimento bíblico da tipologia da criação com o quiasmo (1) “a criação do templo cósmico,” (2) “o tabernáculo e o templo enquanto microcosmos,” (3) “Cristo enquanto cumprimento do templo,” (4) “a igreja enquanto templo do Espírito Santo,” (5) “o templo cósmico da nova criação.”[66] Portanto, a criação do universo começou o desenvolvimento de uma morada para Deus com a humanidade.

Para a tipologia de instituições, casamento será o exemplo explicado neste artigo. A tipologia de casamento segue a descrição de casamento enquanto uma aliança presente em Genesis 2. Hamilton menciona como “Moises usou a imagem feito do casamento humano para falar alegoricamente sobre a relacionamento entre Yahweh com seu povo.”[67]Os profetas clássicos[68] desenvolveram a tipologia ao desenvolver o tema de adultério espiritual, considerando que Israel praticou idolatria e não estava vivendo de acordo com a Lei de Deus, a Torá.[69] Já que Israel não se arrependeu dos seus maus caminhos, eles sofreram as consequências dos seus pecados, e a tipologia evoluiu para “divórcio e novo casamento: exilio e retorno para uma nova aliança.”[70] No Novo Testamento, muitas referências bíblicas existem para o desenvolvimento da tipologia de casamento, como Cristo preparando um lugar para a sua noiva (a igreja) enquanto referência para o costume de casamentos judeus na época de Jesus. Portanto, a Igreja espera para o retorno de Cristo como uma noiva esperaria pela vinda do seu noivo para que o casamento aconteça.

O que é a [Natureza da] Escritura?

Quando se pensa sobre hermenêutica, a questão sobre o que são as Escrituras não é normalmente algo que Cristãos perguntam. Como Enns pontuou, “Perguntar sobre a identidade e propósito da Bíblia pode parecer um pouco exagerado, não apenas no final de um livro,[71] mas em geral.”[72] Porém, a falta de um entendimento considerável sobre a Escritura e a função dela parece estar presente nas igrejas. Dando a abertura para uma personificação, as Escrituras falam de si mesma como “inspirada por Deus e útil para o Ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução da justiça, para que o homem [ser humano] seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.”[73] Infelizmente, uma visão da Bíblia enquanto um manual é bastante comum, independente se alguém usaria a expressão “manual de vida” ou não.[74]O método Histórico-Gramatical, mesmo com as suas qualidades, lida com a Escritura puramente metodicamente.

A ideia de que a Bíblia é uma combinação de vários textos e cada passagem precisa ser entendida separadamente como algo que contém uma receita para como viver a vida talvez tire a complexidade e riqueza presente nas Escrituras. Enns mencionou um professor que ele teve no mestrado que afirmou, “Para os judeus, a Bíblia é um problema a ser solucionado. Para os cristãos, é uma mensagem a ser proclamada.”[75] Em aulas sobre hermenêutica, a unidade das Escrituras é constantemente mencionada.[76] Tal unidade não existe apenas com a intertextualidade, mas também com a teologia bíblica. Por outro lado, diversidade teológica (bastante presente no Antigo Testamento) é um ponto raramente lembrado. Cristãos conservadores tendem a não endorsar a ideia de diversidade dentro da Bíblia por relacionar tal conceito com a ideia de contradição. Da mesma forma, teologia sistemática é uma tentativa de fazer tudo dentro das Escrituras caber pragmaticamente e de uma forma preto no branco dentro de caixas.[77] Enns escreveu, “A Bíblia por si só, precisamente por causa da sua ambiguidade e tensões inerentes, convida a soluções de problemas.”[78] Reconhecer a diversidade dentro das Escrituras é tão crucial para uma hermenêutica madura quanto admitir sua unidade.

A unidade da Bíblia é bem apresentada no conceito de teologia bíblica. Geerhardus Vos explicou que “na teologia bíblica tanto a forma quanto o conteúdo da revelação são considerados como partes e produtos do trabalho divino… Teologia bíblica não aplica nenhum outro método de agrupar e organizar esses conteúdos além do que é dado na própria economia divina da revelação.”[79] Em relação a teologia sistemática, “estes mesmos conteúdos da revelação aparecem, mas não sob o aspecto das etapas de uma obra divina; antes como material para um trabalho humano de classificação e sistematização de acordo com princípios lógicos.”[80] Em vez de tentar fazer todo assunto teológico caber dentro de uma Caixa, leitores da Bíblia devem tentar entender qual teologia a Bíblia defende (teologia bíblica) e usá-la como uma lente para ler o resto das Escrituras. Numa tentativa de resumir a teologia bíblica, a Bíblia traça como Deus se une novamente com a humanidade depois da entrada do pecado: “a história da redenção.”[81]

A questão de qual a função da teologia diz respeito aos estudos bíblicos é crucial para compreender uma abordagem hermenêutica eficiente das Escrituras. Gustavo Gutiérrez definiu teologia como “uma reflexão crítica sobre a práxis cristã a luz da Palavra.”[82] Uma abordagem hermenêutica que tente não minar a complexidade das Escrituras deve compreender que o desenvolvimento de uma aplicação moderna ao texto bíblico não é apenas uma questão de ajuste em relação as diferenças culturais. Joel B. Green afirmou, “Portanto, nossa tarefa não é simplesmente (e as vezes nem um pouco) ler o conteúdo da mensagem de (digamos 1 Pedro) em nosso mundo, como se devêssemos (apenas) adotar suas atitudes em relação ao Estado ou seu conselho em relação as relações entre maridos e esposas. Estamos interessados (e as vezes apenas) em investigar como 1 Pedro se envolve na tarefa da teologia e da ética.”[83] Em outras palavras, a Bíblia não é meramente um manual para copiar e colar, mas um livro teológico que ensina como fazer teologia, demonstrando como Deus ensinou ao seu povo a respeito da ética em sua realidade cultural. Compreender por que Deus deu uma instrução específica é como entender o ensino do texto bíblico.

Conclusão

Os autores do Novo Testamento não seguiam um método hermenêutico semelhante ao método Histórico-Gramatical. Reconhecer que os autores do Novo Testamento não usaram o Antigo Testamento com as mesmas intenções que os autores do Antigo Testamento não significa negar o seu conhecimento e respeito pelo significado original. No entanto, a sua apreciação da analogia demonstra como leitores da Bíblia devem tentar ler as Escrituras de uma forma mais teológica, em vez de puramente histórica. Compreender que a Escritura é um texto teológico significa reconhecer que Deus inspirou os autores ensinando-lhes como fazer teologia com os princípios de Deus. A unidade e a diversidade da Bíblia à luz de toda a história das Escrituras são vitais quando se respeita a complexidade do texto bíblico. Portanto, os cristãos de hoje devem aproximar-se das Escrituras não apenas para adaptar as instruções, mas para aprender como viver no mundo contemporâneo a partir dos mandamentos de Deus (amar a Ele e ao próximo).

[1] Anthony C. Thiselton explicou que a “hermenêutica explora como lemos, entendemos e manuseamos textos, especialmente aqueles escritos em outra época ou em um contexto de vida diferente do nosso. A hermenêutica bíblica investiga mais especificamente como lemos, entendemos, aplicamos e respondemos aos textos bíblicos.” Anthony C. Thiselton, Hermeneutics: An Introduction (Grand Rapids: Eerdmans, 2009), chapter 1, e-book, http://search.ebscohost.com/.

[2] O conceito de sensus plenior passa a fazer parte da discussão. Este termo tornou-se parte de um debate teológico sobre a interpretação das Escrituras como uma “contribuição para a longa tradição da Igreja de falar em termos de diferentes ‘sentidos’ das Escrituras.” O conceito de sensus plenior faz parte do tema porque aponta para “um sentido do texto bíblico que vai além da intenção clara do autor humano, e ainda constitui uma compreensão objetiva do texto pretendido por Deus.” Kevin Duffy, “The Sensus Plenior of Scripture: A Debate and Its Aftermath,” Louvain Studies 38 (2014): 229, http://search.ebscohost.com/.

[3] Bruce K. Waltke, “Historical Grammatical Problems,” in Hermeneutics, Inerrancy, and the Bible, ed. Earl D. Radmacher and Robert D. Preus (Grand Rapids: Academie Books, 1984), 73. Até mesmo o aspecto da intenção do autor traz seus desafios à interpretação bíblica. Stephen E. Fowl explicou que as pessoas que se manifestaram contra tal método “concentraram-se em duas questões principais,” sendo a primeira “se e como se pode descobrir as intenções do autor.” A segunda preocupação é “se e como os autores podem ser considerados como tendo alguma reivindicação ou controle sobre a forma como as suas obras são interpretadas. Stephen E. Fowl, “The Role of Authorial Intention in the Theological Interpretation of Scripture,” in Between Two Horizons: Spanning New Testament Studies and Systematic Theology, ed. Joel B. Green and Max Turner (Grand Rapids: Cambridge, 2000), 71. John Goldingay, ao fazer uma introdução sobre “o que está envolvido na compreensão de uma passagem da Bíblia,” mencionou como “uma terceira implicação para interpretação” que “embora sua origem humana histórica exija que os interpretemos de acordo com seu significado como seria compreendido por (…) leitores contemporâneos a quem Deus se dirigia originalmente (…), a sua origem divina abre possibilidade de que Deus possa ter significado com estas palavras mais do que o seu autor humano ou leitor original teria compreendido.” John Goldingay, Key Questions about Biblical Interpretation: Old Testament Answers (Grand Rapids: Baker Academic, 2011), 9. Tal ponto de Goldingay se conecta com o conceito de sensus plenior. Ao analisar alguns exemplos de citações de autores neotestamentários do Antigo Testamento, o conceito de mais de um significado torna-se mais acessível de visualizar. Tentar argumentar qual era a intenção do autor não é um problema e, às vezes, o texto bíblico aponta para o proposito por trás de suas palavras.

[4] Ibid.

[5] Ibid.

[6] Ibid., 74.

[7] Os problemas relacionados à crítica bíblica estão repletes de detalhes para serem explicados detalhadamente neste artigo. Os problemas não estão relacionados com a importância e qualidade de tal área de estudo, mas com diferentes aspectos que normalmente os estudiosos precisam lembras quando tentam criar teologia, por exemplo. Para mais informações: Norris C. Grubbs and Curtis Scott Drumm, “What Does Theology Have to Do with the Bible? The Call for the Expansion of the Doctrine of Inspiration,” Journal of the Evangelical Theological Society 53, no. 1 (March 2010): 65–79. http://search.ebscohost.com/.

[8] Waltke, 99. Toda a explicação é muito longa para ser abordada aqui. No entanto, um resumo é que “os textos antigos não só reelaboram a sua ‘realidade’ histórica dentro dos seus próprios registos simbólicos, como os textos também moldam as mentes do autor e os contextos materiais de acordo com os seus próprios universos simbólicos.” B. H. McLean, “The Crisis of Historicism: and the Problem of Historical Meaning in New Testament Studies,” The Heythrop Journal (2012): 228. http://search.ebscohost.com/.

[9] J. W. Rogerson and Judith M. Lieu, eds., The Oxford Handbook of Biblical Studies (New York: Oxford University Press, 2006), xvii.

[10] Millard J. Erickson, Introducing Christian Doctrine, ed. L. Arnold Hustad (Grand Rapids: Baker Academic, 2015), 4. Erickson definiu a doutrina crista como “declarações das crenças mais fundamentais que o cristão tem, crenças sobre a natureza de Deus, sobre a sua ação, sobre nós, que somos suas criaturas, e sobre o que ele fez para nos colocar em relacionamento consigo mesmo.”

[11] Intertextualidade, como termo, “cunhado pela primeira vez em francês por Julia Kristeva [mais de] quarenta anos atrás.” Richard B. Hays, Stefan Alkier and Leroy A. Huizenga, eds., Reading the Bible Intertextuality (Waco: Baylor University Press, 2009), xi.

[12] Stefan Alkier, “Intertextuality and the Semiotics of Biblical Texts,” in Hays, Alkier, and Huizenga, 3.

[13] A metodologias hermenêuticas devem considerar a particularidade da intertextualidade das passagens ao tentar construir o significado de uma passagem bíblica para o seu publico original.

[14] Jonathan Lunde, “An introduction to Central Questions in the New Testament Use of the Old Testament,” in Three Views on the New Testament Use of the Old Testament, ed. Stanley N. Gundry, Kenneth Berding, and Jonathan Lunde (Grand Rapids: Zondervan, 2007), 10–11.

[15] Ibid., 40.

[16] Ibid.

[17] Ibid.

[18] Ibid.

[19] G. K. Beale, Handbook on the New Testament Use of the Old Testament (Grand Rapids: Baker Academic, 2012), 56.

[20] Ibid.

[21] Ibid., 56–57.

[22] Ibid., 57.

[23] “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: ‘A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel’ que significa ‘Deus conosco’.” Todas as referências bíblicas serão da NVI

[24] “Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.”

[25] Tradução para o grego da Bíblia Hebraica (entre 300 AC e 100 AC).

[26] Robert Alter explicou que a palavra em hebraico הָעַלְמָ֗ה significa “mulher jovem.” Ele afirmou que “o sinal aqui [Isaías 7:14] é o nome que ela [a mulher jovem] dá ao seu filho, que significa ‘Deus conosco’.” Robert Alter, The Hebrew Bible: A Translation with Commentary, vol. 2, Prophets (W. W. Norton & Company, 2018), 645.

[27] Beale, 58.

[28] “Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite, e partiu para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: ‘Do Egito chamei o meu filho’.”

[29] Craig L. Blomberg, “Matthew,” in Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, ed. G. K. Beale and D. A. Carson (Grand Rapids: Baker Academic, 2007), 3.

[30] Beale, 66. Não é necessária muita explicaça6o nesta categoria de citaça6o. Contudo, um exemplo que ilustra tal uso do Antigo Testamento é 2 Pedro 3:11–14 por se referir às promessas de novos céus e nova terra de Isaías 65:17 e 66:22.

[31] Ibid., 67. Uma observação é que “às vezes é difícil distinguir entre analogia e tipologia, uma vez que a tipologia também inclui analogia dentro de si” (70). Uma definição e explicação mais detalhada sobre o conceito de tipologia será apresentada na próxima seção deste artigo.

[32] Ibid.

[33] “No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa. Com seus ensinos, ela induz os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.”

[34] “Pois está escrito na lei de Moisés: ‘Não amordace o boi enquanto estiver debulhando o grão.’ Por acaso, é com bois que Deus está preocupado? Na6o é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha devem fazê-lo na esperança de participar da colheita.”

[35] Beale, 69.

[36] Ibid.

[37] Ibid., 67.

[38] Ibid.

[39] Peter Enns, Inspiration and Incarnation: Evangelicals and the Problem of the Old Testament (Grand Rapids: Baker Academic, 2005), 104.

[40] Ibid., 105.

[41] Ibid., 106.

[42] Ibid., 107.

[43] Ibid., 110.

[44] “isto é, os séculos entre a conclusão do Segundo Templo em 516 AC e sua destruição pelos romanos em 70 DC.” Enns, 106–107.

[45] Ibid., 121.

[46] Ibid.

[47] Beale também mencionou muitas outras maneiras pelas quais os autores do Novo Testamento usaram o Antigo Testamento. Portanto, embora a análise de todos eles traga reflexões sobre a interpretação bíblica, estas não são tão importantes para os propósitos deste artigo quanto as outras.

[48] James M. Hamilton Jr, Typology — Understanding the Bible’s Promise-Shaped Patterns: How Old Testament Expectations Are Fulfilled in Christ (Grand Rapids: Zondervan Academic, 2022), 26.

[49] Ibid., 25.

[50] Ibid.

[51] Ibid.

[52] Ibid.

[53] Richard B. Hays, Echoes of Scripture in the Gospels (Waco, TX: Baylor University Press, 2018), 2. No entanto, mesmo que Hays esteja certo até certo ponto no que diz respeito à intenção do autor na Tipologia, como escreveu Hamilton, “os padrões são notados e registrados pelo autor bíblico por duas razoes: primeiro, eles viram algo significativo nos padrões.” Hamilton, 23.

[54] Um meio-termo poderia ser que os autores do Antigo Testamento, em sua maioria, não sabiam que o que estavam vivendo apontaria para Cristo ou para outra verdade do Novo Testamento no futuro. Um exemplo é Abraão quase sacrificando Isaque. Tal evento tornou-se uma tipologia referente à morte sacrificial de Cristo. No entanto, afirmar que Abraão, Isaque e o autor aquela seção em Gênesis sabiam o significado de Deus ter pedido a Abraão que matasse seu filho é um salto considerável de conclusão. Além disso, existe um debate considerável sobre autoria do Antigo Testamento no círculo acadêmico. Algumas estruturas textuais em toda a Bíblia Hebraica aponta para autoria múltipla para a maioria dos livros e edição tardia na construça6o do cânon. Portanto, dizer que é possível conhecer o texto original de qualquer livro do Antigo Testamento é um equívoco. Tal realidade demonstra como a Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica, baseando toda a sua defesa na hermenêutica através do método Histórico-Gramatical do texto bíblico original, não pode ser sustentável. Tal afirmação não visa argumentar contra a ideia de inerrância do texto original, mas dizer que é impossível apontar qual era o texto original dos livros do Antigo Testamento.

[55] Hamilton, 174.

[56] Ibid.

[57] Ibid.

[58] Ibid., 177–200.

[59] Ibid., 200.

[60] Ibid., 200–201.

[61] Ibid., 201.

[62] Mark L. Strauss, Four Portraits, One Jesus: A Survey of Jesus and the Gospels (Grand Rapids: Zondervan Academic, 2020), 30.

[63] Neste contexto, a palavra “cumprimento” não tem a mesma conotação do cumprimento de uma profecia.

[64] John H. Walton, The Lost World of Genesis One (Downers Grove: InterVarsity Press, 2009), 78.

[65] Ibid., 80.

[66] Hamilton, 224.

[67] Ibid., 307.

[68] Profetas com livros do Antigo Testamento com seus nomes.

[69] Hamilton, 307.

[70] Ibid., 310.

[71] Enns, 157. Neste caso, na penúltima parte do artigo

[72] Ibid.

[73] 2 Timóteo 3:16–17.

[74] “Aproximadamente, um-terço do Antigo Testamento é poetico em forma.” Jeffrey G. Audirsch, “Interpreting Hebrew Poetry,” Journal for Baptist Theology & Ministry 13, no. 2 (Fall 2016): 32, http://search.ebscohost.com/. Mesmo em métodos hermenêuticos como o presente em Grasping God’s Word: A Hands-On Approach to Reading, Interpreting, and Applying the Bible de J. Scott Duvall e J. Daniel Hays, um tipo específico de abordagem é necessário para interpretar textos poéticos, uma vez que eles não são doutrinários e muito subjetivos em comparaça6o com outros tipos de literatura. Portanto, considerando que uma parte considerável das Escrituras é poética, compreender a sua natureza deve partilhar a sua complexidade.

[75] Enns, 61. Enns explicou ainda nas páginas 61 e 62 como “dentro do próprio Antigo Testamento vemos autores posteriores interpretando os anteriores, um fenômeno geralmente referido como ‘innerbiblical interpretation.’ (…) Uma olhada nos principais textos judaicos que se envolvem na interpretação bíblica… revela uma abordagem à interpretação bíblica que, entre outras coisas, despende uma energia tremenda no combate a estas tensões e ambiguidades.”

[76] “A Bíblia interpreta a Bíblia,” eles dizem.

[77] Um exemplo inicial de ambiguidade no Antigo Testamento pode ser o convite para debate presente no livro de Jó. Uma das principais discussões teológicas dentro do livro de Jó é a respeito do sofrimento dos justos. Os amigos de Jó são frequentemente vistos com críticas ao suporem que Jó vivia em pecado e que toda a sua dor era castigo por não andar de acordo com os ensinamentos de Deus. Os leitores sabem que os amigos de Jó estão errados e que Jó é justo, mas os seus amigos têm uma teologia “bíblica,” pelo menos em parte. Eles estavam aplicando o princípio da retribuição presente no livro de Deuteronômio. Para mais informações: Jiseong James Kwon, “Divergence of the Book of Job from Deuteronomic/Priestly Torah: Intertextual Reading between Job and Torah,” Scandinavian Journal of the Old Testament32, no. 1 (2018): 49–71, http://dx.doi.org/10.1080/09018328.2017.1376522. Um aspecto considerável da literatura sapiencial é seu aspecto subjetivo. A nuance entre Provérbios e Eclesiastes/Jó ilustra tal complexidade. Provérbios trata de como a vida é quando ela funciona como deveria. Eclesiastes e Jó lidam com a vida quando ela não funciona de acordo com algumas expectativas (expectativas que podem até estar de acordo com as Escrituras).

[78] Enns, 62. Um exemplo proeminente que ilustra tal ambiguidade é a diversidade na Lei sobre a Liberdade das pessoas escravizadas. Veja também as páginas 79–80.

[79] Geerhardus Vos, “The Idea of Biblical Theology as a Science and as a Theological Discipline,” in Redemptive History and Biblical Interpretation: The Shorter Writing of Geerhardus Vos, ed. Richard B. Gaffin, Jr. (Phillipsburg: P & R, 2001), 7.

[80] Ibid.

[81] Sandra L. Richter, The Epic of Eden: A Christian Entry into the Old Testament (Downers Grove: IVP Academic, 2008), 21. Um exemplo de uso do que a Bíblia conta (a história da redenção) em outros temas teológicos é traçar o que o texto bíblico aponta em relação à “alteridade” (por exemplo, os gentios como parte do povo de Deus). Embora a entrada oficial dos gentios como parte da aliança com Deus aconteça no Novo Testamento, os discursos a respeito da inclusão de todas as pessoas já estão presentes no Primeiro Testamento. Veja Ananda Geyser-Fouche and Carli Fourie, “Inclusivity in the Old Testament,” HTS Teologiese Studies/Theological Studies 73, no. 4 (2017), http://doi.org/10.4102/hts.v73i4.4761.

[82] Gustavo Gutiérrez, A Theology of Liberation (Maryknoll, NY: Orbis, 1983), 13.

[83] Joel B. Green, “Scripture and Theology: Uniting the Two So Long Divided,” in B. Green and Turner, 41.

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